terça-feira, 29 de abril de 2014

Sem rima

Toda vez que a gente se via o céu chovia.
A gente inundou o mundo inteiro.

Álisson Bonsuet

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Escrevedor

O moço veio do interior.
Teu sonho era ser vendedor.
Ao ver de perto dor,
quase desistidor.

Foi puta, foi luta, foi luto.
Foi mero descaso da moça casada.
Juntou doze casos perdidos.
Matou os amigos, matou de risadas.

Vendia canetas na feira.
Na feira de livros e almas.
Ficou tão rico, tão rico,
que todos amores amava.

Introverso Bonsuet.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Até que a morte nos separe

Eu morri e não lembro de ter visto a minha vida inteira me passar como um filme. Falando em vida, que vida tive eu? Quarenta e sete anos, trabalhei por quase vinte e cinco numa repartição pública, sem amigos, sem filhos, sem mulher; meus pais se foram oito anos antes de mim, fato que não me abalou em nada, eles moravam em Vila Velha, lá onde havia nascido e crescido, eu morava em Brasília, não ligava para eles e eles não me ligavam. Escrevi várias cartas sem destinação, ficaram todas nos correios junto as cartas das crianças para o Papai Noel. Ah... O natal, uma data meio triste que antecedia o ano seguinte, eu sempre esperava pelo ano seguinte com a esperança de que algo novo fosse realmente acontecer, fui o mesmo patético homem desde que me lembro como homem. Diversão? Encher a cara com pessoas fúteis, contratar serviços sexuais, comer, beber, fumar... Entendia que no mundo existiam três tipos de poder, o poder bélico, que eu não tinha, o poder monetário, que não era o suficiente pra que eu pudesse comprar a minha liberdade, e o ultimo que era o mais perigoso de todos, o poder da informação, resumindo, tiro no peito, queima de arquivo. A vida eu agradeço  a oportunidade de ter chegado até a morte.

- Memórias póstumas de Américo Quase Vinte.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ensaio sobre a odisseia lá no quarto

Abro os olhos, consigo enxergar o teu corpo, são quase três da manhã, tudo está escuro, só você brilha. Passo os dedos em tua boca, você se revira, tomo cuidado para não te acordar. Os olhos se fecham novamente e sorrio por dentro, as águas correm, que felicidade ter ali a minha guria; tomo um susto, tua perna pousa sobre a minha inconscientemente, é incômodo e ao mesmo tempo engraçado, deixo ser. A dor que batia no peito por desejar um cigarro sumira, eu estava contigo, meu amor. 
O ventilador faz um ruído chato, um vizinho bate a porta, a cortina perde a guerra para o sol e a claridade me atormenta, finalmente ponho os pés no chão e acordo, olho pro outro lado da cama, pros livros, pra lâmpada... Percebo, este foi o melhor sonho que um homem poderia ter criado.

Bonsuet.